A Associação de Professores de Matemática (APM) exprime uma profunda preocupação face às medidas de política educativa que têm vindo a ser implementadas, nomeadamente as que se prendem com o ensino da matemática. De entre estas medidas, queremos referir de uma maneira especial:
1. A introdução de novas Metas Curriculares para o ensino básico, num momento em que o atual programa de Matemática do ensino básico (PMEB) — homologado em dezembro de 2007 — completa a sua generalização, contrariando-o fortemente na sua estrutura e lógica global e em aspetos importantes dos conteúdos matemáticos; propondo alterações inapropriadas nos ciclos em que são propostas; introduzindo abordagens de ensino que há muito têm vindo a ser postas em causa; valorizando os aspectos mais formais e procedimentais na aprendizagem adotando uma linguagem inadequada ao contexto escolar e à fase etária dos alunos; tudo isto, sem um verdadeiro debate, sem experimentação nem avaliação, e, sobretudo, sem esclarecimento acrescido ou apoio relevante ao trabalho do professor, e conflituando mesmo com aquele que tem vindo a ser desenvolvido no quadro do programa em vigor.
2. A (re)introdução de provas de avaliação nacionais externas em anos de escolaridade muito precoces, vem provocar perturbações no funcionamento do ano escolar e da vida das escolas de que não vemos benefício, antes antecipamos poderem prejudicar aprendizagens relevantes dificilmente contempláveis nessas provas, aspeto ainda mais significativo
quando nos situamos em anos de aprendizagens iniciais.
3. A alteração dos manuais escolares, em função das metas curriculares, decretando a prevalência destas face ao programa, naquilo em que elas o contrariam é de legalidade duvidosa com evidentes desperdícios e à custa de mais custos, sobretudo para pais e encarregados de educação e para o erário público, inviabilizando a reutilização dos manuais escolares recentemente aprovados.
4. A profunda alteração da vida e da organização escolar baseada em mega agrupamentos, no aumento do número de alunos por turma e do número de turmas por professor e no incremento do trabalho burocrático, vem degradando a vida escolar e interferindo negativamente no trabalho dos professores, particularmente no acompanhamento e atendimento aos seus alunos, quer dentro, quer fora da sala de aula.
Recentes resultados de estudos como o PISA e o TIMSS mostram que os alunos portugueses têm vindo a melhorar o seu desempenho em matemática; no caso dos alunos de 4º ano, cujo resultado o TIMSS de 2011 divulgou, verificou-se mesmo que Portugal, neste âmbito, está entre os melhores 15 países do mundo, em igualdade com países como a Alemanha ou à frente de países como a Noruega ou a Suécia.
Os relatórios de provas e projetos, nacionais (e.g. GAVE) e internacionais (e.g. TIMSS), reconhecem alguns factores na melhoria do desempenho matemático de crianças e jovens, desde o reconhecimento da importância crucial da educação pré-escolar, passando pela preparação dos professores e a sua satisfação com a carreira e por um maior envolvimento dos alunos (TIMSS), caminhos que estavam a ser trilhados de há uns anos para cá e que agora vemos ameaçados. Recomendam ainda que não sejam negligenciados o conhecimento e a compreensão de conceitos e procedimentos, e que os professores proporcionem aos seus alunos frequentes experiências matemáticas que envolvam a resolução de problemas, a partilha e a discussão de diferentes estratégias de resolução, a análise do seu significado e a elaboração de registos escritos relatando o trabalho realizado (GAVE), recomendações estas que não são compatíveis com as Metas Curriculares agora propostas, e com as medidas de política educativa que têm vindo a ser tomadas.
A APM reafirma que a implementação das referidas medidas, para além das perturbações e custos a que aludimos, apontam para um retrocesso muito sério na educação matemática e teme que, a muito curto prazo, se venham a confirmar como uma aposta perniciosa que criará fortes dificuldades no caminho que estávamos a fazer com passos comprovadamente seguros, ainda que necessariamente lentos, na melhoria do ensino da Matemática em Portugal.
moção
apresentada pela direção da APM e aprovada
em Assembleia Geral durante o
encontro nacional, ProfMat 2013, em Albufeira
22 de março de 2013